No horizonte surge o Sol, brilhando sobre as árvores frondosas pinceladas com gotas de orvalho. Prostrado no alcatrão de uma estrada embutida na montanha, jaz um corpo inanimado junto a uma bicicleta derrubada. Acidente? Morte? Qual a ocorrência? De repente, o corpo manifesta movimento e é revelada a silhueta de um adolescente erguendo-se lentamente. Ele contempla o horizonte, monta na sua bicicleta e pedala pela estrada abaixo. Este é apenas mais um amanhecer, na vida bizarra de Donnie Darko.
Donnie Darko (2001) é um filme ambíguo e complexo. O argumento parece demasiado confuso , pois preocupa-se mais em colocar questões fascinantes do que fornecer respostas claras . Isto faz da obra de estréia de Richard Kelly uma raridade em Hollywood, já que os guionistas americanos prezam muito pelos enredos claros, coerentes e bem ordenados. Porém, tudo em Donnie Darko tem uma explicação. Na verdade, este filme sobre viagens no tempo é uma espécie de quebra-cabeças gigante. As soluções estão lá todas escondidas como ovos de Páscoa, mas é preciso saber procurar nos sítios certos.
A referência à Breve História do Tempo, de Stephen Hawking, é uma pista importante.
Hawking admite mesmo que haja pontes ou atalhos, chamados buracos de verme, para chegar às regiões mais distantes do espaço-tempo. Ao regressarmos ao passado através de uma dessas pontes, estaríamos a criar um universo alternativo e faríamos com que o tempo fluísse em dois cursos paralelos.
Como conseguiu Donnie Darko voltar ao passado? O livro A Filosofia das Viagens no Tempo dá-nos a resposta: tudo decorre num Universo Tangente em que o nosso protagonista foi escolhido como Receptor para devolver um Artefato ao Universo Primário. Ora, o Receptor Vivo é muitas vezes abençoado com poderes sobrenaturais, que incluem força acrescida, telepatia e a habilidade de manipular o fogo e a água. Isto explica que Donnie tenha conseguido inundar a escola, incendiar a casa e enfiar o machado na estátua de bronze.
As ações de Donnie Darko são guiadas por Frank, o misterioso Coelhinho Gigante. Todo o esforço do realizador Richard Kelly parece indiciar que o Coelho é uma personagem maléfica: a voz distorcida, os atos de destruição (o incêndio e a inundação) que ele desencadeia. Porém, Frank não tem nada de maligno. Ele é, na verdade, um mensageiro regressado do futuro e a sua intenção são auxiliar Donnie a resgatar a Humanidade da destruição pelo Universo Tangente.
Frank não está só, pois todos os outros habitantes da cidade também auxiliam o protagonista. Eles são os chamados Manipulados Vivos e fornecem continuamente pistas para a solução do mistério: a professora de inglês refere a expressão Cellar Door, que conduzirá o protagonista à casa da Avó Morte; a partida da mãe permite a realização da fatídica festa de bruxas;. No final, todos eles sobreviverão e estarão reunidos na magnífica seqüência ao som da canção Mad World.
Resta saber quem é o grande responsável pela manipulação de todas estas personagens. Uma possibilidade é que ela tenha partido de uma civilização mais evoluída que a nossa: os sonhos de Donnie mostram-nos uma cidade do futuro inundada em água e o próprio Stephen Hawking escreveu que uma tecnologia avançada poderia utilizar com sucesso os buracos de verme. Outra possibilidade é a intervenção divina, que também é sugerida pelo filme. Esta solução tem conseqüências teológicas: Deus não seria um Grande Relojoeiro que dá corda ao mundo e se afasta para nunca mais intervir, mas é, pelo contrário, um criador que pode mudar de idéias e atuar no seu Universo através de milagres.
... Cuspido por Raphael, e informações adicionais IMDB e Cine PT
LUZ , CÂMERA , AÇÃO ...CORTA.