16 de fevereiro de 2008

Simplesmente Cinema Recomenda

AMNÉSIA
(Memento, 2000)
de
Christopher Nolan


"Memento" é refinado quebra-cabeça que exige memória e concentração do espectador.
Fernanda Russomano (Londres)

Memento é um filme do tipo conceitual. Daqueles que se prendem a uma idéia de roteiro e constroem toda a obra em torno e dependentemente dessa característica.

Com um enredo extremamente bem amarrado, o filme conta a história de Leonard Shelby, belissimamente interpretado por Guy Pearce, que sofre de perda parcial de memória devido a uma pancada que levou na cabeça do criminoso que estuprou e matou a sua esposa. Ele está a procura deste assassino que arruinou a sua vida. Como não consegue lembrar de nada por mais de alguns minutos, Leonard faz anotações de tudo o que vê, ouve e até das coisas mais rotineiras, como fazer a barba. Sua memória é registrada em fotos Polaroid e as mais cruciais são tatuadas em seu corpo, muitas vezes por ele mesmo.Durante esta desesperada busca, ele conhece o ambíguo Teddy (Joe Pantoliano), e a "barwoman" Natalie (Carrie-Anne Moss).

É verdade que "Memento" sofre do vício daqueles filmes em que as personagens (e, com elas, o espectador...) sabem de menos — é que nesses casos, o realizador sabe demais, e é difícil resistir à tentação do jogo e da manipulação.

O ritmo rápido das cenas em preto e branco torna "Memento" ainda mais intrigante e nos obriga a exercitar a nossa memória. Mostram o passado de Leonard antes do incidente e também são peças essenciais para a montagem deste filme "quebra-cabeça". "Memento" exige uma grande concentração.

O que falar da trilha sonora, que é muito bem utilizada, aparece nos momentos certos e é extremamente envolvente. E, principalmente, é preciosa na construção do ambiente depressivo que Christopher Nolan nos apresenta. E ajuda-nos a perceber que o filme, mais que um thriller, é um genial drama existencial.

As imagens que Cristopher Nolan nos oferece, em Memento, fazem lembrar as notas de uma qualquer melodia que não reconhecemos de imediato, quando a sua composição é ligeiramente alterada. Com o encadeamento inteligente e sedutor de ideias, a coerência entre a mente do espectador e o declarado desfile de epicentros psicológicos presente, podemos afirmar que, a Memento, só falta mesmo o que dele podemos sentir.

E é esse o desafio que nos é colocado. Sabemos o que aconteceu (o início do filme dá-nos a conhecer como termina), e não o que vai acontecer. Como se contemplássemos a perfeição e o jogo de cores presente na pintura de um quadro, não perdendo depois o entusiasmo, ao tentar perceber os motivos físicos e emocionais que levaram o pintor a criá-lo.

Memento torna-se, nesse sentido, num dos trabalhos mais estimulantes sobre a capacidade e o significado da memória de um ser humano e da rotina desse pensamento.

Nós, enquanto indivíduos, podemos decidir “esquecer” algo que não nos agrada, algo com que não nos queremos confrontar. O início e final de “Memento” são, por isso, particularmente chocantes, não tanto no que mostram, mas pela forma como questionam e jogam com as nossas certezas e, principalmente, pela forma como constatamos, em toda a sua dimensão, o destino cruel da personagem principal. No fundo, a ambíguidade de acreditar naquilo que queremos… Hitler também pensou o mesmo, com os resultados que se conhecem. A existência do anjo da morte loiro que Pearce encarna com tanta bravura não anda muito longe…

... Cuspido por Raphael, e informações adicionais IMDB e Cine Players .

LUZ , CÂMERA , AÇÃO ...CORTA.

10 de fevereiro de 2008

Simplesmente Cinema Recomenda

SENTENÇA DE MORTE
(Death Sentence, 2007)

de James Wan

O tema não é novo. Família que vive em perfeita harmonia transforma cada momento especial num pedaço de “eternidade” com gravações e mais gravações dos principais eventos comemorados juntos. Até que um dia, o filho mais velho é assassinado em frente ao pai que consegue reconhecer o assassino. Começa então uma guerra particular entre o pai atormentado e a gangue. Tudo acompanhado de perto pelo sistema falho de justiça e por policiais coniventes.

O filme realmente mostra o que acontece com quem tenta fazer a justiça com as próprias mãos. Entendo que o personagem de Nick fique louco ao saber que seu filho não foi morto por “acidente” em um assalto, mas sim determinadamente escolhido para a iniciação em uma gangue de um moleque chamado Joe.

O fato é que Nick parte mesmo para a vingança e consegue comer o seu prato ainda quente. Mas, claro, desencadeia uma reação das grandes de Billy e de sua gangue - formada ainda por Bodie (Edi Gathegi), Heco (Hector Atreyu Ruiz), Baggy (Kanin J. Howell) Jamie (Dennis Keiffer), Tommy (Freddy Bouciegues), entre outros. A reação do grupo rende algumas cenas de perseguição ótimas, além de uma inevitável represália para o restante da família de Nick.

O diretor ainda acertou em cheio ao escolher Kevin Bacon para o papel do pai que passa por três grandes transformações durante o filme, de pai boa praça, passando pela fase de atormentação com a morte do filho e terminando como um animal tão violento quanto seus inimigos. Sua performance supera seu belíssimo trabalho em O Lenhador (2004). A sumida Kelly Preston (Sky High) não compromete sua participação como a mãe de família. Mas são dois coadjuvantes que dão um show quando aparecem em cena. John Goodman (A Volta do Todo Poderoso) rouba toda as suas cenas como um vendedor de armas duro na queda. Garret Hedlund (Eragon e sobrinho de Brad Pitt em Tróia) se despe de sua beleza épica para interpretar o líder da gangue e não desaponta.

A direção de James Wan é bem equilibrada, com o tom exato conforme a situação e com espaço para alguns momentos mais de expressão dos personagens. A história é baseada no livro de Brian Garfield, com roteiro assinado por Ian Jeffers.

O que poderia ser um drama psicológico com alguns momentos de tensão, nas mãos do diretor James Wan (Jogos Mortais) se torna uma montanha russa sangrenta de perseguições em busca vingança. A trama escrita pelo escritor de Desejo de Matar (a maior saga de vingança familiar do cinema!) não dá trégua para o espectador. Apesar de abusar dos velhos clichês hollywoodianos, nos compensa por contar com cenas memoráveis (geralmente violentas) e pequenas reviravoltas que dão fôlego para o filme crescer num final que não desaponta.


... Cuspido por Raphael, e informações adicionais IMDB, CINEPT e CineCartaz.

LUZ , CÂMERA , AÇÃO ...CORTA.