29 de agosto de 2007

Simplesmente Cinema: Túnel do Tempo



NelsonRodrigues dizia que a unanimidade é burra.Contudo, como toda regra tem uma exceção, a desta frase deve –se chamar CURTINDO A VIDA ADOIDADO. Pense num filme bom de se ver. E o melhor: Todos gostam.

Bom era assisti-lo na sessão da tarde com a dublagem clássica, às vezes você nem sabia o qu
e ia passar, o letreiro começava, a música característica subia e você torcia para ser um bom filme. Será que já assisti? Será que vai ser “ A Lagoa Azul “ ou quem sabe não vai ser mais um filme sobre animais que falam ou são esportistas ............ Segundo de expectativas...... Pronto. Era CURTINDO A VIDA ADOIDADO. Perfeito!

Uma coisa que chama a atenção no filme é o senso de justiça contido nele a respeito da “classe nerd”. Porque é inegável afirmar que o descolado, paquerado e idolatrado Ferris Bueller era um nerd de marca maior,
comprovado no decorrer do filme. Depois de tantos filmes nos quais são apresentados como bobalhões, sem vida social, sem namorada, quase parias nesse mundo de Deus, eis que John Hughes mostra que nerd pode ser sim, sinônimo de diversão e malícia.


Outra coisa maravilhosa a respeito desse filme são as “confidências” de Bueller para a câmera, fazendo com que o expectador se sinta parte da história e não somente uma figura passiva: em vários momentos ele pára de falar com os amigos e se vira para a câmera, como se nós, do outro lado, fôssemos também um de seus amigos que embarcou na empreitada de ter um dia de folga. Matar aula é um desejo corriqueiro na vida de qualquer estudante e o tom íntimo dessas confissões acaba te aproximando mais do filme. Ferris não é mais um
personagem de um filme, mas um amigo legal que resolveu quebrar as regras do jogo da vida e te levou pra dar um passeio numa Ferrari, para logo depois destruí-la jogando-a janela abaixo no barranco. Impagável.

A filosofia Carpe Diem, imortalizada anos depois em Sociedade dos Poetas Mortos, é a cerne do filme inteirinho: Ferris, Cameron e Sloane não têm a menor intenção de mudar o mundo, não querem ser exemplos para ninguém, não pretendem trazer nenhuma espécie de “contribuição” para a Humanidade...Egoístas, talvez? Acho que não. Eles querem apenas se divertir, sem maiores aspirações. Mas ainda assim, sem querer, as lições carpedianas são passadas em frases como “a vida passa muito rápido, se não olharmos em volta e observarmos, poderemos perdê-la” ou “porque eu iria ficar trancado na escola num dia lindo desses?”

O Filme é recheado de cenas clássicas, mas talvez uma que todos devem lembrar é mesmo a do “Twist and Shout” cantado em meio a um desfile. O interessante é que a cena foi rodada em meio a uma parada de verdade, que acontece anualmente nas ruas de Chicago: o Von Steuben Day Parade, Por isso muitas reações, como a dos operários dançando sobre as construções, foram espontâneas.

Voltando à cena da parada em Chicago, quando Ferris dubla Twist and Shout, vemos uma aula de carpe diem na prática: Ele não se importa com o que os outros vão pensar dele quando resolve subir naquele carro alegórico; ele não se importa em cantar a música e se sentir John Lennon por alguns minutos; ele não se importa de dançar alucinadamente pra qualquer um assistir.

Para terminar uso uma frase do Mr. Ferris, falando para as câmeras: “ Não apoio o facismo ou qualquer outro ismo. Na minha opinião os ismos não prestam. Não se deve acreditar neles, e sim em nós mesmos. John Lennon disse: Não acredito nos Beatles, mas em mim”

Cuspido por ...Raphael e informações adicionais IMDB.

23 de agosto de 2007

Brasileirinho


Depois de Moro no Brasil, o finlandês e "quase brasileiro", Mika Kaurismäki apresenta em Brasileirinho mais um documentário sobre a música do nosso país.

Desta vez, porém, foca suas lentes no choro, o dificílimo gênero musical, considerado o primeiro genuinamente popular/urbano típico do Brasil, que ele havia deixado de lado em seu filme anterior, mais centrado no samba. Aliás, foi justamente essa ausência que motivou a execução do documentário. Durante uma exibição de Moro no Brasil na Suiça, Kaurismäki foi confrontado por Marco Forster, fã do gênero, que questionou a exclusão do choro. Esperto, o finlandês escorregou - disse que o ritmo é tão importante que merecia um filme próprio. E Forster ofereceu-se para produzi-lo, o que acabou dando certo.

Diferente do que fez Wim Wenders em Buena Vista Social Club, por exemplo, filme que apressados teimam em comparar a Brasileirinho, Kaurismäki não está interessado nos exoticismos brasileiros. Seu filme é sobre a música, não sobre os músicos. Não há aprofundamentos de personagem - não sabemos como vivem os que ali são retratados - mas sabemos como, e onde, tocam.

A opção é louvável, pois tira do filme a aura "for export" que fatalmente ele teria se esmiuçasse as vidas do retratados - os "brasileiros sofredores". O que se vê em Brasileirinho são apaixonados pela música e pelo estilo de vida do choro. Por outro lado, um pouco de atenção ao entorno não faria mal. Ok, o cineasta usa as belas paisagens do Rio de Janeiro como cenários para entrevistas e rodas de choro, mas faltou mostrar um pouco dos bares, das agremiações onde a música ganhou força - e segue firme. Também faltou um pouca da cultura do gênero - especialmente a da bebida, que aparece em praticamente todos os quadros, sempre nos cantinhos, ou como influência nos olhos vidrados de um dos músicos, mas jamais é abordada diretamente.

Há uma certa resistência da crítica também pela categorização como documentário, já que a grande maioria das cenas é nitidamente pré-combinada, planejada. Mas devo concordar com o próprio diretor, que explica que, sim, as rodas de choro foram montadas para o filme, o grande show ao final idem, mas que todos os depoimentos são espontâneos e não-roteirizados. Novamente, o interesse é exclusivamente a música, que permite grupos de 20, 30 pessoas tocando e improvisando juntas, e sua virtuosa execução. E nesse aspecto, o filme é impecável.

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Pode ser que eu esteja errado por ele ser um documentário nacional, não devo esperar muito ... mas sabe quando você se depara com algo e fica bastante curioso! Pronto e como eu me sinto em relação a esse documentário. Pode ter sido o tema ... ou a matéria ... não sei ... só sei que fui atrás de outras noticias sobre o próprio e me deparei com uma entrevista do diretor, se também tiver curioso basta clicar aqui, se não tudo bem.

Cuspido por ...Raphael e informações Omelete e entrevista Cineminha

22 de agosto de 2007

Simplesmente Cinema Recomenda



Zodiac

Fiquei muito impressionado com Zodiac, o novo thriller de David Fincher. Em uma coletiva, Fincher disse que, depois de Seven - Os Sete Crimes Capitais, havia pedido a seu agente que não lhe encaminhasse nenhum roteiro sobre serial killers. Não queria ficar rotulado, mas o cara insistiu que ele lesse o de Zodiac, sobre o assassino em série que aterrizou San Francisco por volta de 1970 (e inspirou o primeiro Dirty Harry, de Don Siegel, com Clint Eastwood - chamou-se, no Brasil, Perseguidor Implacável).

O roteirista James Vanderbilt disse que se interessou pelos livros de Robert Graysmith - Zodiac e Zodiac Unmasked - porque mostram a caçada de um serial killer por um cartunista. Com base no material que ele escreveu, David Fincher fez um filme muito complexo. Num certo sentido, é o anti-Seven. E é um filme inconclusivo, porque o caso nunca foi resolvido e o suspeito que Fincher e Vanderbilt apresentam não pôde nem ser indiciado (vejam o filme para saber por que). O mais fascinante, para mim, pelo menos, foi o estilo semidocumentário, distante de suas experimentações formais nos filmes anteriores, que Fincher parece (eu acho) ter absorvido de O Homem Quer Odiava as Mulheres, outro filme de serial killer, de Richard Fleischer, do fim dos anos 60, sobre o estrangulador de Boston. O que mais me tocou, e provocou mal-estar, foram ver todos aqueles caras (policiais e jornalistas) destruindo suas vidas, de tão obcecados que ficaram com o assassino do Zodíaco. Não sei o porque mas assistindo Zodíaco me lembrei diversas vezes de Memórias de um Assassino, de Joon-ho Bong, claro que Memórias é mais político,mas Zodíaco ficou bem melhor.

Contido, Fincher se solta mais com notícias de jornais e letrinhas espalhadas pela tela e pelo cenário. Uma tomada da ponte de São Francisco resgata seu olhar forte, mas o que marca e vinga são seqüências de extremo apreço na montagem e na fotografia. Cena localizada num porão defende bem essa noção que Fincher tem do incômodo humano.

Outra coisa boa de notar é o interesse de Fincher pelo próprio Cinema, e de como este pode moldar outros e a si mesmo. “Zodíaco”, o assassino, usa uma daquelas marcas da clássica contagem regressiva dos rolos de filme como uma espécie de assinatura (“Lembra a mira de uma arma”, observa Downey Jr. à primeira vista), e mais tarde seremos informados do filme que o inspirou e também sua antiga profissão, relacionada não ao Cinema, mas ao cinema.

Há uma grande mistura aqui, embora pendendo para a simplicidade. É desses que merece ser revisto.


Cuspido por ... Raphael e informações adicionais Imdb

16 de agosto de 2007

Simplesmente Cinema Recomenda


Anlat Istanbul

"Cinco diretores diferentes, cinco histórias que se cruzam. Através delas podemos encontrar a pulsação de uma cidade, com seus dramas, suas passagens engraçadas, finais felizes ou tristes. Caóticas como a vida. CONTOS DE ISTAMBUL retrata a respiração genuína de uma cidade, a honestidade e a poesia, a consciência da magia do cinema, fomentada num engenhoso trabalho de edição, uma fotografia crua mas maravilhosa e um grande trabalho do elenco inteiro.

Ao contrário de muitos filmes sobre cidades – este aqui não só oferece um catálogo de vidas reais. Os contos do título são de alguma maneira contos de fadas verdadeiros (há até as “fadas madrinhas”), acontecidos no dia-a-dia de pessoas comuns, que poderiam ser nossos vizinhos. São versões e referências contemporâneas de “A Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Flautista Mágico”, contadas com integridade surpreendente, interconectadas matematicamente. Para servir de referência, a edição do filme tem algo de “Pulp Fiction” ou “21 Gramas”.
Altamente Recomendado.


"Não é quem eu sou por dentro e sim o que eu faço é que me define." Batman Begins


7 de agosto de 2007

Brasília 18%



Brasília 18%, Brasil, 2006

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Gênero: Drama

Duração: 102 minutos

Elenco: Carlos Alberto Riccelli, Malu Mader, Othon Bastos, Carlos Vereza e Otávio Augusto


Eu sou daqueles que para gostar de um filme brasileiro ele tem que ser 100% . Admito que o cinema brasileiro vem numa crescente, percebemos isso pela a quantidade de filmes estreando recentemente.

Apesar de tudo como relacionei em percentagem o cinema brasileiro, Brasília 18% deve chegar em seus 18%, mais deve ser elogiado, pois o filme faz parte de um estilo que deveria existir mais no Brasil. Ao invés de focar as lentes nos menos favorecidos, Nelson Pereira, cinquenta anos depois de abrir os olhos do Brasil para a realidade das favelas, parece fazer o oposto. Num país que tem como cinema político sinônimo de “filmes canhestros sobre a ditadura”, o tempo é o presente, aqui e agora. Brasília, terra da corrupção, de crimes que passam batidos, de políticos que fazem tudo por dinheiro e poder, de um povo que não é visto e nem se faz conhecido pelos seus representantes.

O filme aborda gênero difícil de se fazer no Brasil, arriscado para alguns (como digamos tratar de políticos, sem dar nomes aos bois) e que é tão banal no cinema americano e europeu, mas permanece um tabu. Falhas técnicas de lado (como o fundo azul no avião), simples cretinices (a menina pedindo a Bíblia; juro que achei que haveria ali uma mega situação explicando, mas nada...) Porque fazer filmes visualmente bonitos, com uma belíssima fotografia em tons escuro é a prova que o cinema brasileiro está crescendo, mais no geral o filme pode se abreviar em 1 palavra ... CHATO ... mais ao podemos crucificar porque isso é simplesmente, cinema nacional.

.::VEJA UM BOM FILME ESTA NOITE ::.