NelsonRodrigues dizia que a unanimidade é burra.Contudo, como toda regra tem uma exceção, a desta frase deve –se chamar CURTINDO A VIDA ADOIDADO. Pense num filme bom de se ver. E o melhor: Todos gostam.
Bom era assisti-lo na sessão da tarde com a dublagem clássica, às vezes você nem sabia o que ia passar, o letreiro começava, a música característica subia e você torcia para ser um bom filme. Será que já assisti? Será que vai ser “ A Lagoa Azul “ ou quem sabe não vai ser mais um filme sobre animais que falam ou são esportistas ............ Segundo de expectativas...... Pronto. Era CURTINDO A VIDA ADOIDADO. Perfeito!
Uma coisa que chama a atenção no filme é o senso de justiça contido nele a respeito da “classe nerd”. Porque é inegável afirmar que o descolado, paquerado e idolatrado Ferris Bueller era um nerd de marca maior, comprovado no decorrer do filme. Depois de tantos filmes nos quais são apresentados como bobalhões, sem vida social, sem namorada, quase parias nesse mundo de Deus, eis que John Hughes mostra que nerd pode ser sim, sinônimo de diversão e malícia.
Outra coisa maravilhosa a respeito desse filme são as “confidências” de Bueller para a câmera, fazendo com que o expectador se sinta parte da história e não somente uma figura passiva: em vários momentos ele pára de falar com os amigos e se vira para a câmera, como se nós, do outro lado, fôssemos também um de seus amigos que embarcou na empreitada de ter um dia de folga. Matar aula é um desejo corriqueiro na vida de qualquer estudante e o tom íntimo dessas confissões acaba te aproximando mais do filme. Ferris não é mais um personagem de um filme, mas um amigo legal que resolveu quebrar as regras do jogo da vida e te levou pra dar um passeio numa Ferrari, para logo depois destruí-la jogando-a janela abaixo no barranco. Impagável.
A filosofia Carpe Diem, imortalizada anos depois em Sociedade dos Poetas Mortos, é a cerne do filme inteirinho: Ferris, Cameron e Sloane não têm a menor intenção de mudar o mundo, não querem ser exemplos para ninguém, não pretendem trazer nenhuma espécie de “contribuição” para a Humanidade...Egoístas, talvez? Acho que não. Eles querem apenas se divertir, sem maiores aspirações. Mas ainda assim, sem querer, as lições carpedianas são passadas em frases como “a vida passa muito rápido, se não olharmos em volta e observarmos, poderemos perdê-la” ou “porque eu iria ficar trancado na escola num dia lindo desses?”
O Filme é recheado de cenas clássicas, mas talvez uma que todos devem lembrar é mesmo a do “Twist and Shout” cantado em meio a um desfile. O interessante é que a cena foi rodada em meio a uma parada de verdade, que acontece anualmente nas ruas de Chicago: o Von Steuben Day Parade, Por isso muitas reações, como a dos operários dançando sobre as construções, foram espontâneas.
Voltando à cena da parada em Chicago, quando Ferris dubla Twist and Shout, vemos uma aula de carpe diem na prática: Ele não se importa com o que os outros vão pensar dele quando resolve subir naquele carro alegórico; ele não se importa em cantar a música e se sentir John Lennon por alguns minutos; ele não se importa de dançar alucinadamente pra qualquer um assistir.
Para terminar uso uma frase do Mr. Ferris, falando para as câmeras: “ Não apoio o facismo ou qualquer outro ismo. Na minha opinião os ismos não prestam. Não se deve acreditar neles, e sim em nós mesmos. John Lennon disse: Não acredito nos Beatles, mas em mim”
Cuspido por ...Raphael e informações adicionais IMDB.